No abismo do meu pensamento
desfaço-me nas águas e nos ventos
nas correntezas sem memória
em véus de vapor errante
quero caber num corpo de estrelas
abrigo onde o instante mortal seja eternidade sideral
a antiga pele tecida em luz
suavizar as minhas quedas
romper a rigidez da minha essência austera
derramar esperança, como sangue vivo, no cálice do meu destino
gritar coragem nas frestas da noite
Sou do silêncio de janeiro
carrego o peso das pedras na dureza de Saturno que me habita
sei dos segredos do inverno
Visitei os céus de Júpiter
Senhor dos céus vastos
caminhei por rios de ventos, mares de água em fúria
neles, o silêncio de trovões era raio e ventanias uivantes
a noite, estrada de clarões
Regressei ponte alada entre rocha e raio
minhas pedras são degraus de ascensão
meu silêncio, luz, que devora a escuridão
Entre o tempo que me prende e a eternidade que me chama
aprendi a caminhar sozinha com o meu silêncio
iluminada pelo luar
Miriam Li/Braga
acrílica/esmalte/Eucatex (60 x 40)