Visitei as coxas de jupiter

visitei as coxas de Júpiter

a chuva encharca-me a pele e atinge os ossos, que se derretem
e caem em charco, que deriva para o rio e, o rio para o mar
o mar salga-os e deixa-os livremente, se evaporizar
para nuvens enigmáticas em céus aleatórios

viajo assim nos ventos instantes, até recair em novo charco
derivar para novo rio, e desaguar em novo mar

salgados e eternos ossos, que esperam o solidificar
que a chuva cesse e, que um sol vermelho de sangue os venham secar
visito as coxas de Júpiter e leio as carnes novas
quero caber num corpo, vestido de pele imune à chuva
Fernando Oliveira


____________________________________


Visitei os céus de Júpiter 

No abismo do meu pensamento

desfaço-me nas águas e nos ventos

nas correntezas sem memória 

em véus de vapor errante 


quero caber num corpo de estrelas

abrigo onde o instante mortal seja eternidade sideral 

a antiga pele tecida em luz

suavizar as minhas quedas 

romper a rigidez da minha essência austera

derramar esperança, como sangue vivo, no cálice do meu destino

gritar coragem nas frestas da noite 


Sou do silêncio de janeiro

carrego o peso das pedras na dureza de Saturno que me habita 

sei dos segredos do inverno 


Visitei os céus de Júpiter 

Senhor dos céus vastos

caminhei por rios de ventos, mares de água em fúria 


neles, o silêncio de trovões era raio e ventanias uivantes

a noite, estrada de clarões 


Regressei ponte alada entre rocha e raio

minhas pedras são degraus de ascensão 

meu silêncio, luz, que devora a escuridão 


Entre o tempo que me prende e a eternidade que me chama

aprendi a caminhar sozinha com o meu silêncio

iluminada pelo luar 

Miriam Li/Braga 


acrílica/esmalte/Eucatex (60 x 40)

https://www.instagram.com/olharesdaminhaalma/