Véus do olhar
Véus escapam do poema tingido
jorram olhares
com cores que já não têm
A secura da névoa
que dança no fio da memória
reflete o espelho das cores fugidias
como rios que margeiam lembranças antigas
E a tela
muda de calor, finge sorrisos
a quietude das pálpebras grita
em olhares em êxtase e dor
e a boca chora
o próprio brilho impudico
Uma febre insana dobra a ruína
em enganos de beleza
devolve ao vazio de ser invisível
a esperança de ser cor outra vez
O pincel fere o silêncio
desbota o olhar sob véus de saudade
onde o azul esqueceu o céu
é gesto sonhado tentando existir
no eco das minhas mãos
Pintar é amar o impossivel
cada traço um suspiro
de um tempo em tons abandonados
que ainda respira em mim
Sob véu de espera do meu olhar inquieto
espero
que olhares de luz me queiram ver.
Miriam Li/Braga
acrilica/carpete
(100 x 90)

