Espelho, espelho meu...

Espelho, espelho meu...

Quando criança, eu brincava no pátio da nossa casa
caminhava olhando para baixo, para o espelho que trazia à  altura da cintura...assim, me sentia caminhando entre nuvens   e, às vezes, vencida por desejos, esperava anoitecer para   caminhar entre estrelas e acariciar a lua 

Em mim habita o céu da infância antiga
A nuvem é memória que me abriga

Bebi da fonte da sabedoria primeira
enquanto com carvão, evidenciava deslumbrantes olhares nas paredes protetoras do porão
guardava para mim, a descoberta da inversão das cores em películas herdadas

Nas paredes, a luz e a sombra se agigantavam insólitas, sem mediação ou ilusão
imagens vivas da intenção pensada
desobediente à regras, modelos, teorias

A autoria questionada, um duelo cruel
"isso não é arte", "isso não é teu"...

Sou mulher em estado bruto, feita de silêncios
Indiferente a julgamentos, assumo e assino os Olhares da minha Alma
domino as técnicas de desenho e pintura que desenvolvi
não sou canal, sou nascente, sou raiz que rasga o chão

Palavra inteira, não me curvo ao mito ou ao altar, é pura confissão
Autora viva a se autorrevelar
não visto o véu de fada, nem manto de sacerdotisa

O silêncio do rosto que me olha do espelho, confessa
Espelho, espelho meu...
Eu sou ela, ela sou eu.

Miriam Li/Braga
Afresco/grafite em pó (75 x 45)

Resto do Post