Exilio do olhar
Não há consolo nem promessas
Não há pregos nem martírio
Há recusa, no olhar que se ausenta de si
vazio suspenso de olhos que não querem olhar
Berros calados ressoam no abismo íntimo de ser
esgotam a última gota do pranto contido
Uma viga de madeira pendurada
sustenta a ausência
não exige fé, não oferece perdão
reflete súplicas, culpas rasgadas em
confissão
O rosto que nela repousa, não se doa e nem se explica
Inerte na dor que já não clama
sem escuta, apenas recusa
Roupagem antiga para feridas eternas,
o silêncio que brota da cruz silencia o abandono do olhar nela pendurado
E, ali, onde o olhar se exilou do mundo, a cruz não redime — vazia de olhar, revela:
somos todos rostos pendurados
no silêncio da cruz que escolhemos não ver.
Miriam Li/Braga
Técnica mista
Acrilica-grafite em pó/madeira
(95 x 75)