Ecos do instante
Cansei de morrer, tantas vezes morri...
antes do abraço
a um passo do encontro marcado, morri
atravessei luas pálidas, cruzei sóis viris sem chegar a lugar algum, cansei
cansei... de morrer, cansei!
Reles destino, omisso, me deitou em mar de areia
náufraga do meu querer, ninguém me ouviu cantar...
Ninguém!
Na sombra de um verso sombrio da indiferença
foge de mim a pérfida poesia
inscrevo-te nas margens do meu olhar de espera
até a tinta virar oceano
E o mundo se cala
Entre lágrimas que a terra devora
abandono as algemas da esperança às margens do silêncio latente na madrugada vazia de calor
No corredor do tempo, o vento despeja saudade, promessas rasgadas e uiva lâminas de desejos
Fugitivos de gêmea solidão
Morremos nós...
à beira de um beijo morto
no abraço que nunca chega
Nunca!
Tu e eu morremos...
nos sonhos que ardem sob a pele nua
no encontro que não germina
na eternidade que se insinua
... para nos descobrirmos vivos.
Miriam Li/Braga
acrilica/lona (90 x 70)

