A fuga da sereia

A fuga da sereia Carrego vestígios vivos do mar são águas do esquecimento maresias antigas ainda me perseguem nas minhas mãos um punhado de mar No asfalto um perfume de abandono exala dos meus passos nus já não canto Meus sapatos sabem mais de mim do que o sal que me inventou traços de mim amargam os caminhos que renunciei 

Sou o intervalo entre um passo e a ressaca
um quase adeus
ecoando o rumor das ondas

Ainda me chamam...
Já não respondo aos apelos do mar
feita de espumas aprendi a secar

Se a maré subir
que lave e leve meus sapatos
são gritos por retorno que não me levam mais

No cimento sem calor há letras de permanência
petrificaram meus versos

Deixo o espelho do mar
promessa de abismo azul

sonhei ser sereia...

para caminhar descalça
à beira do concreto cinza dos dias finais.

Miriam Lima

acrílica/grafite em pó/eucatex
(90 x 60)

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