Ossos da linguagem
Há dias em que me descubro saudade
um lamento sem rosto, sem nome
mudo, serpenteia rasgando silêncios
nos céus de dezembro que se insinua
Minhas pálpebras, exaustas
sonham estrelas do mar
o vento, estático, abandona o próprio destino
flores sem cor, desaprendem aromas
A respirar o vazio do poema
a tristeza entristece meus versos
letras feridas berram a mudez de papel
E sangram
Descascam dores antigas
até os ossos da linguagem
amargas
se aninham no meu olhar
e o mundo desaba em tintas cruas
Um sussurro trêmulo do pincel
recusa a mágoa e, num trapo de tela
exalam os olhares da minha alma
Escritos quase todos nus
sem qualquer ostentação
para que o brilho das vestes
e o ouro no alto dos concretos de
dezembro
não desviem e ofusquem
o brilho que trazem no olhar
Em cada silêncio estampado
um recanto de poesia
há luz nas frestas ocultas
nos véus de dezembro encantado
resta-me pintar uma nova aurora.
Miriam Li/Braga
afresco/grafite em pó
(100 x 85)

