Dentes de leões

Dentes de leões

Eis-me

Descalça sobre o concreto ardil
das arenas de incompreensão

Sem escudo

Guardo lágrimas caladas
à soleira do grito

Dentes de leões rondam a poesia
lambem meus versos sem paisagem
machucam o brilho do silêncio
que me ilumina

Empunho a espada do afastamento
para não magoar o poema
para que a minha voz respire...

Liberdade!

Para que a minha palavra não sangre
na boca dos ruídos tolos

Nas ruelas feitas de pausas
a poesia sobrevive intacta
e eu, refugiada na renúncia do som
que me sustenta

Não ergo a voz
clamores cativos me entendem
acendem a luz do silêncio
onde o sentido faz ninho

Há verdades
que somente o silêncio pronuncia

Não aprendi a lutar, consinto a ferida
para que o poema fique inteiro
resguardo versos que ainda pulsam
no silêncio que é minha couraça
onde nem os leões alcançam.

Miriam Li/Braga
Desenho/eucatex
(90 x 60)