Corpo de delito

Corpo de delito 

Negaram-lhe o direito de ser carne e pensamento
a voz aprisionada entre juízes mudos

Exibiram os ossos como troféu amputado da moral
pendurados nas vitrines espelhadas da decência pálida 

Corpo de delito 

Nada mais que um número carimbado
na pele gélida, um rótulo sujo que sangra 

Um ninguém! Fétido! 

Sentença que arde no espelho eterno
resto de um crime que renasce em arte 

Só  queria existir...  respirou culpa
bebeu o fel das horas negadas 

Sob a pele machucada havia um grito
a culpa de nascer com alma 

O corpo esvaziado, sem retrato
o nome cravado no aço do esquecimento 

A palavra que nasce do corpo julgado
do sangue e das cinzas da  humilhação 
vira gesto doloso, a arte, poema 
último fôlego, lâmina que fala 

Eternidade viva
como o silêncio, ainda respira na cruz. 

Miriam Li/Braga
Desenho/papel A4

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