Letras do silêncio
O meu silêncio tem voz, meus desejos, rosto
A boca é cárcere da palavra calada
a dor dorme sem nome
nos porões da tristeza vazia de calor
afetos repousam pela ruína da alma
Entre duas letras informes, encontrei o destino inteiro
respira em minhas narinas como beijo suspenso no ar
guarda segredos da dor que não se agita
Vesti o silêncio como veste que cobre a pele
e no lábio púdico, o fogo da tua ausência que não se apaga
Cada vestígio teu é abismo que me chama
guardo nele a cicatriz do teu lábio impúdico
ardendo como vinho antigo
Um beijo que me cresce nas narinas
transfigura o ar em desejo
sopro que me acendeu na carne dos olhos
A letra que deixaste no meu olhar
chave de uma prisão antiga sem portas
desvenda a ousadia, que nem às pedras confesso.
Miriam Li/Braga
Desenho premiado
XIII Salão Internacional de Artes Plásticas
Proyecto Cultural Sur - Brasil 2004
Bento Gonçalves, RS.
Desenho/madeira (100 x 70)