Dois passos de dança
Abro as cortinas secretas da minha alma
não há plateia e nem aplauso
apenas o eco do meu próprio ser
que ressoa sem temor
nas paredes contentes dos sonhos meus
Danço para um mar de ausências
para não morrer em mim
quando o silêncio rasga a carne
com unhas de seda e aço
manchada por lágrimas antigas
O palco dormente acorda
nos meus pés, o pó do tempo cintila
nos meus olhos, uma lembrança de nada
no ar, perfume de sonho que não quer acordar
O chão range um sorriso reverente
cada passo, uma confissão que o meu corpo grita
Sou!
minhas pernas de balé
lanças de luz que riscam o ar
falam por mim
Há um instante antes do fim
respiro o ar com cor de encanto
canto o meu silêncio em tom maior
ao sabor da cadência além do som
Ainda sou inteira, há poesia em mim
Sou
dois passos de dança
que ninguém me viu dançar
Ninguém!
Miriam Li/Braga
afresco/grafite em pó
(7 x 4)

