Estou indo embora

Estou indo embora 

No retrato golpeado 
sou contorno que restou da luz
minto um sorriso embalsamado
com cores que já não tem
eco da carne de quem hoje é só papel 

A moldura é porta aberta do silêncio 
mas ainda escuto o rumor da minha alma 

Estou indo embora
de vestes nua
tentando escapar do ventre da noite
a pele em ruína civil
é carcaça egoísta de alma 

Não sei se já sou apenas lembrança
ou ausência visível 
a caminho do começo invisível do fim 

Resta-me a inocência do meu ombro

Nu

a seduzir o olhar do esquecimento
como se tivesse olhos de me querer 

Estou indo embora.

Miriam Li/Brag

Grafite em pó/eucatex 
(70 x 60)

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