Um poema sem poesia

Um poema sem poesia 

Não há vida... nem morte 
a inexistência do sabor de amanhecer
deitada na sarjeta suja de não ser 

Embriagado de vazio, à espera do nada
um poema, sem poesia, verte da quietude da dor 
grita por um mundo menos nítido 

Há um silêncio de vidro ao meu redor
ninguém me espera
tenho o hálito amargo do que já desisti 

Se eu entrasse para dentro de um copo de  cachaça...
o chão me entenderia e eu, líquida 
derramada em indiferencas cruas
e memórias que me afundam em lágrimas de desespero 
seria um vulto dissolvido em partículas de ressaca do mundo 

Meus ombros em rendição 
já não sustentam a minha sombra nua
que ainda respira um instante que nunca termina 

O abismo me beija em silêncio
como se esperasse apenas por mim
ameaço negar as minhas lutas
resistir...
vazia de calor,  me entrego 

A água celeste banha meu corpo esquálido
respiro o rio das almas,  gota a gota
enquanto lava a lama dos olhos do mundo 

Tenho as pernas secas de consolo
sem asas para voar, quero caber num copo 
que me beba inteira, num gole só
como quem sabe que eu não volto mais.

Miriam Li/Braga 

grafite em pó/eucatex 
( 60 x 50)

Resto do Post