Ecos do instante

Ecos do instante 

Cansei de morrer, tantas vezes morri...
antes do abraço 
a um passo do encontro marcado, morri
atravessei luas pálidas, cruzei sóis viris sem chegar a lugar algum, cansei
cansei... de morrer, cansei! 

Reles destino, omisso, me deitou em mar de areia
náufraga do meu querer, ninguém me ouviu cantar... 

Ninguém! 

Na sombra de um verso sombrio da indiferença 
foge de mim a pérfida poesia 
inscrevo-te nas margens do meu olhar de espera 
até a tinta virar oceano 

E o mundo se cala 

Entre lágrimas que a terra devora
abandono as algemas da esperança às margens do silêncio latente na  madrugada vazia de calor 

No corredor do tempo, o vento despeja saudade, promessas rasgadas e uiva lâminas de desejos 

Fugitivos de gêmea solidão 

Morremos nós...  
à beira de um beijo morto
no abraço que nunca chega 

Nunca! 

Tu e eu morremos...
nos sonhos que ardem sob a pele nua
no encontro que não germina
na eternidade que se insinua 

... para nos descobrirmos vivos. 

Miriam Li/Braga
acrilica/lona (90 x 70)

https://www.instagram.com/olharesdaminhaalma/

Resto do Post

Entre o céu e a terra 

Sou cosmos e carne viva
conto estrelas como quem descobre destinos
sou da noite como a lua 
sonho a poesia rasgando o ventre da madrugada 

Com os pés descalços na terra que me aninha
sigo a luz que há no fim da orla extrema  do céu 
sussurro versos guardados no silêncio do ninho 
enquanto uma lágrima árida transborda mares invisíveis 

Entre o sopro do céu e o sangue quente da terra 
há um espaço só meu,  onde a minha vida é pintura viva 

E, é ali
de luz e cor vestida que me refaço e renasço sobre a tela encarnada que me sonha. 

Miriam Li/Braga 

acrílica/tela vermelha (encarnada)

(60 x40)

https://www.instagram.com/olharesdaminhaalma/

Resto do Post

Aos pés do mandacaru, chorei...

A noite celeste de estrelas vestida
em silêncio poético, cai no árido dia
acorda desejos com a lua 
sal das paixões desmedidas 

Sincera, rasga o céu noturno em revelação
inocente instante de furor da beleza em brancura noturna 

Suplício 
a morte súbita da flor da noite se veste de luz
do primeiro sussurro da aurora para nunca mais 

Meu olhar permaneceu no silêncio ardente
do rastro dos espinhos que sangravam perfumes sobre a terra agreste esparramados 

Fitei o segredo da eternidade breve 
e a nudez da beleza e da morte anunciada 
ajoelhei-me em êxtase e dor 
morri e renasci na mesma lágrima calma 

Aos pés do Mandacaru, chorei...
era a poesia que me fitava. 

Miriam Li/Braga 
acrilica/esmalte/eucatex 
(90 x 60)

Resto do Post

Perfume, espinhos... Ea flor


Resto do Post

Perfumes, espinhos... E a flor 

Quando o abraço do teu olhar me consome
um cântico de eternidade silencia a rouquidão da noite 

Estremeço 

Fujo do punhal do tempo como quem morre a cada beijo
e renasce no sangue fervente da paixão 

A carne é labareda insaciável 
na vertigem onde a alma se perde 

A poesia sai de si, goteja o poema no delírio que arde e corrói 

Quando teus olhos de me querer florescem
atiçam perfumes, espinhos 

E a flor 

O que resta de mim senão o ardor de um verso cego 
à beira do abismo quase morte da paixão. 

Miriam Li/Braga

acrilica/papel camurça
(60 x 40) (em andamento)

Leva-me contigo


Resto do Post

Leva-me contigo 

Não há gritos nem vazios
a quietude do silêncio do meu olhar é luz  incandescente que não se apaga na espessura da noite

Desvela-me aos olhos teus
que me olham além dos enganos da existência 
e dos brilhos fáceis da pele falaz do mundo 

Sob as camadas ocultas que desafiam o teu castanho olhar 
rendo-me ao fadado encontro 

Vem
rasga as cortinas do tempo perdido
leva-me contigo ao luar de desejos
mostra-me para a tua pele rendida 

Ou me deixa aqui... 
no chão do retrato velado da indiferença 
até perder a voz do horizonte 
à espera de que a aurora tardia do teu perfume penhorado me desperte. 

Miriam Li/Braga 

acrílica,esmalte/Eucatex

(90 x 60)

https://www.instagram.com/olharesdaminhaalma/

O silêncio doa desejos


O silêncio dos desejos 

Há um verso esquecido no cárcere do poema
uma canção que grita além do som
o olhar estelar silencia o temor do açoite de palavras sem eco 

Sensível como a crisálida ensaia o voo 
em cada suspiro, uma estrela nascente
cada lágrima oculta finge sorrisos, querendo o céu 

Um sopro de luz atravessa o silêncio 
sustenta o desejo infinito 
um vento mínimo de respiro 

Lá fora, a rua carrega batalhas invisíveis 
armas de incompreensão
a beleza do silêncio dos desejos represado é força subterrânea 
não dito, é fúria e ternura que nenhuma língua de ferro pode calar 


O rosto inocente ousa pedir apenas uma fresta no mundo hostil

tem sede, fome de transbordar
fecha as pálpebras de liberdade, resiste e volta a sonhar.

Miriam Li/Braga 

Acrílica/grafite em pó/compensado

(70 x 50)

https://www.instagram.com/olharesdaminhaalma/


Resto do Post

Visitei os céus de Júpiter

No abismo do meu pensamento
desfaço-me nas águas e nos ventos
nas correntezas sem memória 
em véus de vapor errante
 
quero caber num corpo de estrela
abrigo onde o instante mortal seja eternidade sideral 
a antiga pele tecida em luz
suavizar as minhas quedas 
romper a rigidez da minha essência austera
derramar esperança, como sangue vivo, no cálice do meu destino
gritar coragem nas frestas da noite 

Sou do silêncio de janeiro
carrego o peso das pedras na dureza de Saturno que me habita 
sei dos segredos do inverno 

Visitei os céus de Júpiter 
Senhor dos céus vastos
caminhei por rios de ventos, mares de água em fúria 
neles, o silêncio de trovões era raio e ventanias uivantes
a noite, estrada de clarões 

Regressei ponte alada entre rocha e raio
minhas pedras são degraus de ascensão 
meu silêncio, luz, que devora a escuridão 

Entre o tempo que me prende e a eternidade que me chama
aprendi a caminhar sozinha com o meu silêncio
iluminada pelo luar.
Miriam Li/Braga 

acrílica/esmalte/Eucatex (60 x 40)

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A nudez da minha dor


A solidão do indigente olhar que espera
sou coragem rejeitada, deitada à beira da ilusão 
não mais que a ferida indulgente do sussurro traído 

Sou a dor da lágrima calma
trêmula 
acalma a febre da finda noite
transborda
sangra pedras de silêncio que me escoram 

Quero chorar...
há véus de sorrisos sobre meus olhos
aflitos, recusam o pranto 

Quero cantar...
há berros calados gritantes na clausura de um gemido suave
réus, carregam ausências
fingindo inocência, escondem abismos sem céu 

Quero seguir...
há um tremor culposo rasgando a espera
o teu silêncio sofrido,  o meu, partido
fragrância querida ainda viva, em impune ausência 

Quero lembrar...
minhas mãos já não te escrevem
vazias de calor, silenciam
obram letras quebradas nos porões da lembrança deserta
entre sombras e auroras perdem-se em cinzas e
perdoam a nudez da minha dor 

Quero seguir...
e sigo
minto cantigas para a lua passiva
afago cicatrizes nas paredes da esperança
ainda respiram..
jaz tenro abraço, desconhecido beijo sinto.
Miriam Li/Braga

desenho/grafite em pó /eucatex (160)

Resto do Post

Rendição

Dois silêncios... íntimas noites nuas
insinuante tapete mágico... deitados
ameaças de morte por beijos

o teu
poema-mor, às margens da minha pele rendida
velado convite, diamante anelado

o meu
teu último mundo, sentença de vida em vida
confesso anel de olhares suspensos

fadado encontro, rendição...
a sós
descobrem-se vivos... o meu e o teu

Respira a noite, perfume de promessas vivas
teu pensamento é meu, e o meu, para sempre, teu.

Miriam Li/Braga

desenho grafita/grafite em pó/ papel A IV

No fio do teu olhar

No fio do teu olhar 

Quando a noite vem
sou instante suspenso no fio do teu olhar
moldado em versos de saudade 

vencida por desejos, sou
no rastro do teu silêncio, estou
ao sabor de desejos, prometi ao destino
na aurora de um novo hoje, amanhã 
teu sonho eleito, animar 

vem

traz contigo teu perfume, anunciando a tua chegada 
tua voz abissal, estremecendo a minha
grava em mim as mãos do teu querer pensado

estou aqui, sem segundo, vestida da espera que me sustenta. 

Miriam Lima/Braga 


acrilica/escultura/cola durepox/eucatex (60 x 40)

https://www.instagram.com/olharesdaminhaalma/

Resto do Post

Ti voglio bene

Ti voglio bene 


Negro olhar que em noites sonhadas

abre o portal dos meus sonhos

verso sonhado que revisita meu sonho como maré 

é passado sem nome, futuro sem fim


Tem a pele de convite à arte pela arte 

não conversa, mas o olhar imanente me diz 

no instante em que me alcanças

sou feito de ti, tanto que me recrias

em tela viva nos sonhos teus

Ti voglio bene.

Miriam Li/Braga 

acrílica/tela/carpete (100 x 70)

TI voglio bene é o primeiro, de uma série  de 6 contos baseados em sonhos repetitivos, reais

Retrato, com precisão fotográfica, as imagens, rostos, olhares e paisagens que registro em sonhos, durante o sono.

https://www.instagram.com/olharesdaminhaalma/

Resto do Post

Solitude


Solitude

No alvor da madrugada rasgo a cortina implacável do tempo 
espio o passado sem amarras 
não há mais laços nas feridas caladas 
espinhos perdoados repousam quietos sob a pele da memória antiga 

Na aurora de um novo hoje 
há encanto no meu olhar 
há gorjeios gorjeando 
há perfumes florescendo
amanhecendo o luar 

A distância não separa 
a ausência é presença viva que abraça 
por livres e espontâneos desejos próprios 
eis-me aqui 
sou existência no silêncio que me guarda 

Solitude, refúgio eleito 
solidão almejada. 

Miriam Li/Braga 
acrílica/lixa (50 x 40)

A face oculta

A lembrança incerta pausa, desfaz a face
o instante escorre pelas frestas da memória 

O rosto que me rodeia, emudece
trêmulo, se deixa ver
mas o olhar sem laços, não encontra morada 

O ontem reaparece indefeso a cada manhã
a ausência permanece estática, presente nas minhas horas rasas 

um rastro de silêncio cega o meu olhar vazio de retrato
já não sei teu rosto e não são as tuas, as mãos que me sonham
sobra a tua voz que reina em mim, além do som 

O mar serenou tarde demais. 

Miriam Li/Braga
Título da poesia: A face oculta
Título do quadro: Prosopagnosia
acrílica/esmalte/Eucatex (90 x 60)

Resto do Post

O homem visita o homem

O homem visita o homem 

A súplica muda imóvel na estampa dourada 
sustenta o silêncio ancestral guardado
m experiências universais 

Teu silêncio não me é estranho
também o arrasto,  acorrentado na garganta 

Há séculos nos olhamos 
e quando olhares silenciam
o homem acorda
abre janelas na própria prisão 

Cada olhar é um verso esculpido no espelho quebrado do tempo
um convite para visitar a própria memória 

o homem visita o homem 
e descobre que também é hóspede
visitante em si mesmo.

Miriam Li/Braga 

Pintura premiada 
XIII Salão Internacional de Artes Plásticas 
Proyecto Cultural Sur -Brasil/2004 - Bento Gonçalves, RS

acrílica/tecido/colcha matelace (100 x 70)

https://www.instagram.com/olharesdaminhaalma/

Resto do Post

Não te vás!

Não te vás! 

Saia escarlate ao chão... jaz a luz à cabeceira
amantes vontades rasgando véus
silhuetas famintas, inflamadas carnes ao léu
mãos que não se calam... o vinho é servido. 

Pairam perfumes inundando o leito, gota a gota
regando feiticeiras bocas... rubra conspiração
desobrigadas taças... sorvido molho. 

Resgatada pele, rotas pernas abraçando a paixão
inútil fuga... empossados céus
demasiado tarde... é morta a solidão. 

Fica assim... no meu último olhar, a miragem
diluindo silêncios, estremecendo a rede 

Assim ficas tu! Esculpido em secreto poema
a dançar dentro de mim... 
Não te vás! 

MiriamLi/Braga

Grafite em pó/eucatex (90 x 60)

https://www.instagram.com/olharesdaminhaalma/

Resto do Post

Insuficiente vontade

Insuficiente vontade
Transitando silêncios, sem passos, penso
nada há além do hábito que habito, inválido
resfria a antiga pele sensível sob o lenço 

Desapareço
indiferente... quieta, atravesso o tempo 

Negro sol golpeia a poesia, pálido 
sombreia a espera... morena luz fria 
lentos versos requebram ao relento 

Finjo não ler o último recado da nova lua
insinua um poema, serena mentira balbucia, nua
sacrifica segredos, prateia promessas, brinda à folia 

Exijo perfumes, ajoelho... arremesso a tiara 

Insuficiente vontade irriga o meu olhar
entorpece a menina, escorre... atiça a taça vazia
tinjo a lanterna... inspiro o espelho, absolvo a intriga 

Estremeço
rasgo a vidraça... inquieta, clara noite eterna me espera.
Repenso.

Miriam Li/Braga 

grafite em pó/verniz/eucatex

Camuflagem

Camuflagem 

Pareço bela, mas meus olhos já não sorriem
não prosseguem a travessia, não sou 

Sou folha de outono, à beira da paixão 
roo a fatalidade do destino
tenho a alma dilacerada em cor
cada traço uma ausência 
cada dor um desejo abatido 

Perdida no corredor das lembranças
me rendo às tintas 
e as mãos que sabiam meu ser
hoje não sabem onde pousar 

Um tremor sem calor atravessa 
o poema sem rima que escorre de mim 

A noite me toma
me entrego
revivo nas rendas do meu vestido cor mel.
Miriam Li/Braga 

Acrílica, esmalte/eucatex(90 x 60)

https://www.instagram.com/olharesdaminhaalma/

Resto do Post

Exílio do olhar

Exilio do olhar 

Não há consolo nem promessas
não há pregos nem martírio
há recusa, no olhar que se ausenta de si
vazio suspenso de olhos que não querem olhar 

Berros calados ressoam no abismo íntimo de ser
esgotam a última gota do pranto contido 

Uma viga de madeira pendurada
sustenta a ausência 
não exige fé, não oferece perdão 
reflete súplicas, culpas rasgadas em
confissão 

O rosto que nela repousa, não se doa e nem se explica
inerte na dor que já não clama
sem escuta, apenas recusa 

Roupagem antiga para feridas eternas
o silêncio que brota da cruz silencia o abandono do olhar nela pendurado 


E, ali, onde o olhar se exilou do mundo 
a cruz não redime — vazia de olhar, revela:
somos todos rostos pendurados
no silêncio da cruz que escolhemos não ver.
Miriam Li/Braga 

Técnica mista 
Acrilica-grafite em pó/madeira
(95 x 75)

Engenha-me

Engenha-me

És tu!! Só tu, que vagueias em mim
que me acendes à distância quando o sol, vencido, desaba nos vãos da noite e a lua, silente, espia

Faz de mim o que quiseres - só tu!!

Com tuas mãos, que conhecem a melodia do meu silêncio
me recrias ao teu querer
desenha-me com a tua boca de promessas não ditas

Sou pétala entreaberta ao orvalho dos beijos teus

Faz-me carne viva do teu sonhar desperto
desvenda a pele do meu desejo
tenho poros querendo transpirar
há um grito calado, querendo gritar
refaz-me com fios de lembrança antiga
geme meu nome com sofreguidão

Se não o fizeres, não sou
Se me chamares, eu vou.
 Miriam Li/Braga


afresco/grafite em pó
(2,15 x 1,15)

Resto do Post

Espelho, espelho meu...

Espelho, espelho meu...

Quando criança, eu brincava no pátio da nossa casa
caminhava olhando para baixo, para o espelho que trazia à  altura da cintura...assim, me sentia caminhando entre nuvens   e, às vezes, vencida por desejos, esperava anoitecer para   caminhar entre estrelas e acariciar a lua 

Em mim habita o céu da infância antiga
a nuvem é memória que me abriga

Bebi da fonte da sabedoria primeira
enquanto com carvão, evidenciava deslumbrantes olhares nas paredes protetoras do porão
guardava para mim, a descoberta da inversão das cores em películas herdadas

Nas paredes, a luz e a sombra se agigantavam insólitas, sem mediação ou ilusão
imagens vivas da intenção pensada
desobediente à regras, modelos, teorias

A autoria questionada, um duelo cruel
"isso não é arte", "isso não é teu"...

Sou mulher em estado bruto, feita de silêncios
indiferente a julgamentos, assumo e assino os Olhares da minha Alma
domino as técnicas de desenho e pintura que desenvolvi
não sou canal, sou nascente, sou raiz que rasga o chão

Palavra inteira, não me curvo ao mito ou ao altar, é pura confissão
autora viva a se autorrevelar
não visto o véu de fada, nem manto de sacerdotisa

O silêncio do rosto que me olha do espelho, confessa
Espelho, espelho meu...
Eu sou ela, ela sou eu.

Miriam Li/Braga
Afresco/grafite em pó (75 x 45)

Resto do Post

Páginas de silêncio

Páginas de silêncio

A pupila do tempo me encara, exposta
desvendo meu retrato nas fendas sutis de rostos frágeis
bordo a dor com cor de perdão, quase sem fala 

A luz do fim de tarde me parte e reparte
mostro-me em fases, sou lua na rua
ferida, me escondo feito miragem nua

O silêncio também é arte, daquelas que não se pendura
arte que me escapava como segredo

Perdura no papel destinado, um ateliê de palavras, não um grito
pendurado no mundo, o que era entre nós dois

No caminho, uma ponte desfiada sobre o verniz escorregadio da dúvida

Meus olhos já não choram, quando as luzes se apagam
estou onde meu pensamento adormece
páginas e páginas de silêncio repleto de mim, sem eco, vazias de fim.
Miriam Li/Braga
afresco/ grafite em pó (1,40 x 85)

Homenagem póstuma; Poema para o Poeta português, Fernando Oliveira -

Um lê, o outro olha

Abre-se um portal do universo
um respiro no meu silêncio
celebro o poeta que se faz belo na poesia confessa
demora-se em douradas letras sentimentais

Entrelaçados pela arte, tecemos a trama da realidade
com a força das palavras e a magia das pinceladas

Nossos mundos se tocam, feito laços
há um mundo consentido, tão nosso
entre teus rascunhos e meus traços

És verbo, sou imagem
no encontro entre teu verso e o meu gesto
a poesia tem olhos e a pintura, linguagem

Teu português é antigo, como pedra e mar
meu olhar, novo como chuva no papel
o rosto que me olha da tua escrita
é o mesmo que me pede cor e pista

Tua poesia é um circulo onde o tempo se dobra
minha pintura, uma janela onde o silêncio sobra
Na tua rima, há abismos e véus
na minha tela, há rostos buscando céus

Tua voz é vento que dobra o jardim
meu pincel, um pulso trêmulo de marfim
num oceano de tinta e palavras 
pulsam versos com cor de sonhar
sufocam o queixume do falso abandono poético pictural
um adeus que nunca foi dito

Os dois, somos poetas e pintores,
o teu silêncio escreve, o meu retrata
Um lê, o outro olha.

Miriam Li/Braga

São três horas


Resto do Post

São três horas
na lembrança repousa o instante
tem a pele do segredo
tímido de enredo, insiste na fuga

A memória é gesto do passado

A saudade murmura suas lutas
envelhece o retrato
fiel, cambaleia sem alento
às portas da madrugada, vive

A verdade clareia à noite
despe a ilusão, inspira a palavra
cisca a lágrima perdida

Nuvens em céus líquidos, somos nós
São três horas.

 Miriam Li//Braga

acrílica/ papel camurça ( 60 x 40 - cada)

Poema para Van Gogh


Resto do Post

Poema para Van Gogh

Um trêmulo sussurro de girassol
ecoa na ventania estática

O silêncio do pincel risca a tristeza
dilui o pranto em noites estreladas
a cadeira repleta de ti, grita a quietude da dor

O horizonte curvado beija o chão dourado
aprova o cancioneiro de corvos sobre o trigal

A noite desce afetuosa vestida de estrelas
emoldura a colina
ao sabor do teu límpido olhar

Na clausura da arte, excede o silêncio
rende-se à arte pela arte, simplesmente
floresce o jardim dos poetas.

Bem-aventurado silêncio que nos credita.
                                                                            Miriam Li/Braga

afresco em grafite em pó (35 x 30)

Olhos sobre tela

Olhos sobre tela

O meu olhar, sob o véu do silêncio, diz
pranteia ao luar de céus noturnos
encontra morada, é firmamento
esparrama versos calados, namora
em ti permanece, em olhos sobre tela

Sobre tela é espelho, é cortina
autoriza e dá o tom, o meu olhar
estampa instantes da íris menina, cresce
sanguínea mulher, quer
ora míngua, esquece

Este meu olhar, nu
areja a liberdade que povoa meus sonhos
inocenta a rudez de pegar-se de palavras
eleva a ponte do distanciamento
parto sem dor.
Miriam Li/Braga

Acrílica/lona (40 x25)

A te procurar


A te procurar

Sempre quando eu venho aqui
um vazio quase morte serpenteia envolvente
leio letras de saudade, saudade em letras
versos tontos de amor
alço voo fulminante, a te procurar

Volta e meia lanço rezas, inválidas
meia volta... se morrer é preciso
preciso morrer assim, de amor
a te procurar...
antes que o dia aconteça.

Miriam Li/Braga
acrílica e grafite em pó/ mdf (75 x 60 )

Ainda ontem, era amor

Ainda ontem, era amor

Meu corpo se agita à fina força
cruzo os braços frente a meu destino
em aposento cheiroso sonhei sonhos, anelados
era amor à flor da pele, ainda ontem

A distância se aproxima, cruel
abro a janela real
avisto abismo sedento, tão perto
beijadas pétalas abandonam o buquê

Um arrepio norteia o meu olhar, além-mar
agarro-me às pétalas de um verso sem cor
verte um pranto mudo, magoado
pulsa uma dor sem corpo, caio por terra
um sonho perdido anoitece em mim.

Miriam Li/Braga

acrilica /mdf ( 75 x 60)

Resto do Post

Sob o mesmo sol de um arco-íris

Sob o mesmo céu de um arco-íris 

Pairam perfumes à beira do amor
sob o mesmo céu de um arco-íris 
gotas de luz em dança dentro de mim
desarmam o meu último olhar, inquieto 

A um passo do horizonte
há um silêncio consentido, crucial
um sorriso golpeado 

Confronto o arco-íris, face a face
jorram brutais verdades, nuas
a meia-voz entoo sonatas contidas em aventurado pote de liberdade, dourado 

Estendo a mão ...
Abraço a diversidade de bem-querer e
a inocência de simplesmente ser, humano.
Miriam Li/Braga

acrílica/papel camurça (60 x 40)
         

Não quero viver, amanhã

Não quero viver, amanhã 

Sabes que não  quero viver, amanhã 
sem o teu olhar no meu, a cada manhã 
se ontem vivi e teus olhos me dizem
o quanto te importo, hoje
amanhã  não  quero viver 

Noites sem luar, sóis sem calor
meu olhar se afasta para longe
tão perto ontem
hoje, não quero viver amanhã.. 

Quando o amanhã raiar
em fuga ficarei no hoje, eternamente
entre os olhares da minha alma e
os amores que aqui eu deixar, hoje 

Não quero viver, amanhã. 
Miriam Li/Braga

Grafite em pó/duratex (100 x 65)

https://www.instagram.com/olharesdaminhaalma/

Resto do Post

Além da meia noite


Resto do Post

 Além da meia noite

Calada é a noite, além da meia noite
quando o meu olhar no teu desaba, deságua
qual rio caldoso em leito cordial
acordam estrelas, cadentes resvalam errantes
seduzem solteiros olhares ao sabor da ilusão

Meia noite, noite e meia, além
meias noites sem juízos além da meia noite

Mentirosa lua vagueia à toa, promessas vãs...
tarde demais, a noite cai no dia, além
ordinário sol.

Miriam Li/Braga

acrílica/mdf ( 75 x 60)

  Depois de ti

  Jazem tulipas, nas vísceras da espera
  fraca, minto sorrisos, escondo beiços dormentes
  quietos, envelhecem secretas lembranças

   desvio desconhecidos olhares
   guardo berros calados
   arrasto braços sem abraços   
   enquanto sorvo inodoras flores, tingidas.

   Socorre-me a lua nas madrugadas vadias
   iluminando a presença da tua ausência
   mostra-me o espelho, que me foge a vida
   ainda encharcada de sonhos

   No silêncio dos desejos, quieta
   estapeio a realidade, estremeço, e
   tento não sofrer, depois de ti.
   amanhã não sei...
   Miriam Li/Braga

acrílica/mdf (75 x 60)

Resto do Post

Despedida


Despedida


Sofro vontades perecíveis

sensíveis, falecem

são tulipas na ventania


Manso silêncio lunar, fiel

vela a finda cerimônia


Branda noite, despida de esperas

sou despedida

voltar não prometi.


Miriam Li/Braga



acrílica /mdf (75 x 60)

https://www.instagram.com/olharesdaminhaalma/

Resto do Post

Obras premiadas

Um outro olhar
grafite pó/madeira(100x70)
Desenho
O homem visita o homem
acrílica/colcha de tecido matelace(100x70)
Pintura


Obras premiadas
XIII Salão Internacional de Artes Plásticas do Proyecto Cultural Sur-Brasil/2004 - Bento Gonçalves,  RS




Parceria com o poeta Fernando Oliveira -https://picturalpoesia.blogspot.com/

Os teus olhares

Os teus olhares - afresco grafite pó (130 x 90)
Os teus olhares

Os teus olhares, se bem que plurais, são singulares
Visonhas, vindas das reminiscências de Guernica
A de-multiplicação esparramada de, Picasso
Pela multiplicação aparamentada, adensa de, Lima

Como o poeta, rimas ou desramas, empilhas rostos
Como na poesia, estes formam o painel da centelha
A tua arte, alcança a minha, na imagem que é freira
A minha, sobra da tua, ou orna o quadro que não diz
Os dois, somos poetas e pintores, um lê, o outro olha.

Fernando Oliveira

Poesia dedicada a mim pelo Poeta Fernando Oliveira 

Ficar no pensamento/Rendição


Ficar no pensamento

imaginações entrelaçadas
que se apetecem em mim

se não olho, penso e, vejo
um pensamento no meu
no meu pensamento és tu

se não penso, vejo e, penso
que és para o meu intento
quem entrou para lá ficar.

Fernando Oliveira 

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Rendição

Dois silêncios... íntimas noites nuas
insinuante tapete mágico...deitados
ameaças de morte por beijos 

o teu
poema-mor, às margens da minha pele rendida
velado convite, diamante anelado 

o meu
teu último mundo, sentença de vida em vida
confesso anel de olhares suspensos 

fadado encontro, rendição... 
a sós
descobrem-se vivos...o meu e o teu 

Respira a noite, perfume de promessas vivas
teu pensamento é meu, e o meu,  para sempre, teu.
Miriam lima/Braga

desenho/grafite/grafite em pó/papel A IV


Engenha-me/No fio do teu olhar

Engenha-me

Sabes... que ontem não vivi e... que amanhã não sou

estou hoje aqui...colhe o que quiseres de mim

sou ainda..mais raro e sensível que a crisálida 
tanto que me recrias... fico contigo... não vou

se não o fizeres... ficarei simplesmente assim
com o ontem e o amanhã... hoje... estátua esquálida.
Fernando Oliveira

Parceria com o Poeta, português, Fernando Oliveira 

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No fio do teu olhar

Quando a noite vem
sou instante suspenso no fio do teu olhar
moldado em versos de saudade 

vencida por desejos, sou
no rastro do teu silêncio, estou
ao sabor de desejos, prometi ao destino
na aurora de um novo hoje
amanhã
teu sonho eleito, animar 

vem
traz contigo teu perfume, anunciando a tua chegada 
tua voz abissal, estremecendo a minha
grava em mim as mãos do teu querer pensado
estou aqui, sem segundo, vestida da espera que me sustenta. 

Miriam Lima/Braga 

acrilica/escultura/cola durepox/eucatex
(60 x 40)

Um olho facto... o outro abstracto/Solitude

Um olho facto... outro abstracto

abri a cortina - e fiquei cega
que estava quase chumbada
apenas olhava por uma fenda
não sabia a cor do sol
mas sei quantas estrelas existem

abri a cortina e fiquei nua
da cor de terra ferrugenta
timidamente como um lobrigar
destrui o cimento de fora
por não gostar do retrato

voltei para o olho abstracto

Fernando Oliveira
https://picturalpoesia.blogspot.com/

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Solitude 

No alvor da madrugada rasgo a cortina implacável do tempo
espio o passado sem amarras
não há mais laços nas feridas caladas espinhos perdoados repousam quietos sob a pele da memória antiga 

Na aurora de um novo hoje
há encanto no meu olhar
há gorjeios gorjeando
há perfumes florescendo
amanhecendo o luar 

A distância não separa
A ausência é presença viva que abraça 
por livres e espontâneos desejos próprios 
eis-me aqui
sou existência no silêncio que me guarda 

Solitude, refúgio eleito
solidão almejada. 

Miriam Li/Braga
acrílica/lixa (50 x 40)

Um fio de ouro... outro de prata

Meu mundo...minha arte... minha rede... e o meu silêncio

Um fio de ouro... outro de prata

Um fio de ouro.. outro de cinza

enrolada no tapete da inexistência
a fonte criadora.. implode na escuridão
quebrou-se-lhe o espelho da resistência

o cinzeo quadro da indiferença
absorveu a ideia da revolução
a objectividade ficou nua de crença

o tumulto aglomera-se na aurora
e avoluma-se no zénite da cidade
tudo adentra.. como um revés de fora

o porte ínclito.. é baixo ventre sem espora
a passividade ganhou letras de caridade
enraizadas num peito.. túmulo e escora

o fio de luz.. acaba no velório da cegueira
a visão do além.. é auriflama inglória
indefinido provento.. férrea fronteira

indeferido o tempo.. vê na fresta freira
o zumbido iconoclasta duma memória
asilada na prudência.. da inerte cabeleira

Fernando Oliveira

Um fio de ouro... outro de cinza - afresco grafite em pó.
Parceria com o Poeta Fernando Oliveira - Pictural - Poesia - Pictural