Colar de lágrimas

Colar de lágrimas 

O poema chora no colo da aparência 
carrega na altivez de pedra
um colar de lágrimas 
nascido do ventre ferido 

Polido de ímpar solidão, antiga vitrine 
eterno véu, esconde mares em fúria
berros submersos em mim
que não alcançaram a maré 

Acalmado o furor
sou apenas renda de ausências
que se rasga na luz 

Meu olhar naufraga
no espelho do anfiteatro do mundo
meus desejos, lapidados em vaidade
são poesias que não vivi 

Sou moldura de silêncio emocionado
sorrio com o rosto
desfaço-me com o olhar de maresia 

E o sorriso 

É só o resto do rosto 
            que ainda sabe fingir. 

Miriam Li/Braga
acriica/papel camurça 
(60 x 40)

Resto do Post

Estou indo embora

Estou indo embora 

No retrato golpeado 
sou contorno que restou da luz
minto um sorriso embalsamado
com cores que já não tem
eco da carne de quem hoje é só papel 

A moldura é porta aberta do silêncio 
mas ainda escuto o rumor da minha alma 

Estou indo embora
de vestes nua
tentando escapar do ventre da noite
a pele em ruína civil
é carcaça egoísta de alma 

Não sei se já sou apenas lembrança
ou ausência visível 
a caminho do começo invisível do fim 

Resta-me a inocência do meu ombro

Nu

a seduzir o olhar do esquecimento
como se tivesse olhos de me querer 

Estou indo embora.

Miriam Li/Brag

Grafite em pó/eucatex 
(70 x 60)

Resto do Post

Um poema sem poesia

Um poema sem poesia 

Não há vida... nem morte 
a inexistência do sabor de amanhecer
deitada na sarjeta suja de não ser 

Embriagado de vazio, à espera do nada
um poema, sem poesia, verte da quietude da dor 
grita por um mundo menos nítido 

Há um silêncio de vidro ao meu redor
ninguém me espera
tenho o hálito amargo do que já desisti 

Se eu entrasse para dentro de um copo de  cachaça...
o chão me entenderia e eu, líquida 
derramada em indiferencas cruas
e memórias que me afundam em lágrimas de desespero 
seria um vulto dissolvido em partículas de ressaca do mundo 

Meus ombros em rendição 
já não sustentam a minha sombra nua
que ainda respira um instante que nunca termina 

O abismo me beija em silêncio
como se esperasse apenas por mim
ameaço negar as minhas lutas
resistir...
vazia de calor,  me entrego 

A água celeste banha meu corpo esquálido
respiro o rio das almas,  gota a gota
enquanto lava a lama dos olhos do mundo 

Tenho as pernas secas de consolo
sem asas para voar, quero caber num copo 
que me beba inteira, num gole só
como quem sabe que eu não volto mais.

Miriam Li/Braga 

grafite em pó/eucatex 
( 60 x 50)

Resto do Post

Se me queres

Se me queres 

teus olhos me dizem o quanto te importo
rompem a cortina do meu silêncio 

Clamam
como se soubessem do desejo 
que o meu corpo ainda cala 

Se me queres, fico contigo
meu abraço ainda é promessa
aguardando o instante de ser beijo 

Sou o que te percorre quando te vejo
o que em ti me reconhece 

Teus olhos me olham
na vertigem do meu olhar
onde o corpo se dissolve em febre 

Tuas pupilas crescem nas minhas
como se o céu coubesse num instante
trêmulo de nós dois 

O amor simplesmente acontece 
se divide para ser inteiro 

Dois corpos que se pressentem antes do gesto 

Se olham 
no rumor do leito real dos sonhos 
e, nos lençol de silêncio que espera
fazem da distância suspiros da pele 

Somos versos do mesmo poema 

Trêmulo
grita na carne do destino fiel
com letras de céu da tua boca 

Se me queres
esqueço o aceno final
o adeus preso no teu olhar de partida 

Miriam Li/Braga
acrilica/eucatex.

Resto do Post

A fuga da sereia

A fuga da sereia Carrego vestígios vivos do mar são águas do esquecimento maresias antigas ainda me perseguem nas minhas mãos um punhado de mar No asfalto um perfume de abandono exala dos meus passos nus já não canto Meus sapatos sabem mais de mim do que o sal que me inventou traços de mim amargam os caminhos que renunciei 

Sou o intervalo entre um passo e a ressaca
um quase adeus
ecoando o rumor das ondas

Ainda me chamam...
Já não respondo aos apelos do mar
feita de espumas aprendi a secar

Se a maré subir
que lave e leve meus sapatos
são gritos por retorno que não me levam mais

No cimento sem calor há letras de permanência
petrificaram meus versos

Deixo o espelho do mar
promessa de abismo azul

sonhei ser sereia...

para caminhar descalça
à beira do concreto cinza dos dias finais.

Miriam Lima

acrílica/grafite em pó/eucatex
(90 x 60)

Resto do Post

Que amor é esse!...

Que amor é  esse!... 

Que amor é esse
que martela a tua presença no meu olhar
rasga o meu respirar 
como lâmina de fascínio na carne da esperança 

Saio de mim a te procurar
na profundeza dos meus sonhos
no sopro cálido dos ventos uivantes
no rumor das esquinas do meu ser
na brisa do mar... 

Quando chove em mim
fecho minhas pálpebras de ausências torrentes 

Florescem outra vez 
tão perto 

Tão longe 
no deserto árido da distância 
na rudeza do afeto ferido sem corpo
no cárcere manso da lágrima calada
na voz oculta do véu da noite 

Não quero estar sem ti 

A espera 
às portas dos meus sentimentos inquietos espera
e tem a cor de espelho do teu infinito olhar 

Que amor é esse...
com sabor de eternidade. 

Miriam Li/Braga

acrilica/madeira/compensado
(90 x 60)

Resto do Post

Eu e ela 

Somos um mesmo poema vivo
respira entre a luz e a sombra que sou 

Na extrema altura do céu
um encontro
luz e sombra juntas
tecidas no mesmo verso 

Eu e ela 
rompemos o precipício abissal da alma
trilhamos o mesmo destino 
a palavra da carne e o vestigio da ausência 

Juntas 

Sou a luz que fere o dia
o instante onde ela respira 

Ela, a sombra que me abraça 
faz do meu silêncio morada
assiste meus gritos, silencia minhas quedas
consome meus segredos

Eu e ela

laços de um véu dourado que o tempo não rasga
dança antiga como o canto das estrelas 

Eu, tempestade da pele
Ela, guarda o que em mim se cala 

A confissão que o silêncio abriga. 

Miriam Li/Braga
afresco/grafite em pó 
(55 x 40)

Resto do Post

Corpo de delito

Corpo de delito 

Negaram-lhe o direito de ser carne e pensamento
a voz aprisionada entre juízes mudos

Exibiram os ossos como troféu amputado da moral
pendurados nas vitrines espelhadas da decência pálida 

Corpo de delito 

Nada mais que um número carimbado
na pele gélida, um rótulo sujo que sangra 

Um ninguém! Fétido! 

Sentença que arde no espelho eterno
resto de um crime que renasce em arte 

Só  queria existir...  respirou culpa
bebeu o fel das horas negadas 

Sob a pele machucada havia um grito
a culpa de nascer com alma 

O corpo esvaziado, sem retrato
o nome cravado no aço do esquecimento 

A palavra que nasce do corpo julgado
do sangue e das cinzas da  humilhação 
vira gesto doloso, a arte, poema 
último fôlego, lâmina que fala 

Eternidade viva
como o silêncio, ainda respira na cruz. 

Miriam Li/Braga
Desenho/papel A4

Letras do silêncio

Letras do silêncio 

O meu silêncio tem voz, meus desejos, rosto 

A boca é cárcere da palavra calada
a dor dorme sem nome
nos porões da tristeza vazia de calor
afetos repousam pela ruína da alma 

Entre duas letras informes, encontrei o destino inteiro
respira em minhas narinas como beijo suspenso no ar
guarda segredos da dor que não se agita 

Vesti o silêncio como veste que cobre a pele
e no lábio púdico, o fogo da tua ausência que não se apaga 

Cada vestígio teu é abismo que me chama
guardo nele a cicatriz do teu lábio impúdico
ardendo como vinho antigo 

Um beijo que me cresce nas narinas
transfigura o ar em desejo
sopro que me acendeu na carne dos olhos 

A letra que deixaste no meu olhar
chave de uma prisão antiga sem portas
desvenda a ousadia, que nem às pedras confesso.
Miriam Li/Braga 

Desenho premiado
XIII Salão Internacional de Artes Plásticas 
Proyecto Cultural Sur - Brasil 2004
Bento Gonçalves, RS. 

Desenho/madeira (100 x 70)

Resto do Post

Como no filme As pontes de Madison

Como no filme As pontes de Madison... 

No silêncio secreto das horas roubadas
dormentes desejos sangrei
versos calados para ti cantei... cantei
livrei segredos, despertando pássaros,  querubins 

Ah! Como eu te amei...

Nua rua, lua nua
gestos incertos, noites com tons de perfume, tingidas 

Destinada aliança 
ao sabor dos desejos, no compasso dos ventos
no teu abraço dancei... dancei 

Sobraram ecos dos beijos confessos
esparramadas pétalas na frágil calçada 

Ah! Como eu te amei...
presa entre o desejo de correr até ti
e a condenação de sobreviver estátua à sombra do nada
com o olhar em prantos derramado
vendo-te partir com metade da minha alma 

Nos passos que ficaram pelo caminho 

Saudade sepultada viva...
no abraço guardado
em cada jura silenciada
na boêmia poesia 

No clarão da tempestade dos olhos teus
vivo a morrer lentamente
no deserto doloso da tua ausência 
deixando em cinzas o destino 

E a chuva
lavando as feridas da renúncia calada
no véu da noite final 

A eternidade pode caber em quatro dias
era amor, sabemos nós 

Ninguém te amou assim, nem há de amar...
como no filme As pontes de Madison.
Miriam Li

acrilica/papel camurça  (60 x 40)
Pintura e poema inspirados no filme As pontes de Madison.

Resto do Post

O silêncio dos invisíveis

O silêncio dos invisíveis 

Um fio de poesia brota
entre lembranças que golpeiam a carne
e desejos que sangram sem consolo
sustenta  berros calados que corroem
e denuncia a inexistência de existir 

Ferida aberta de não ser... 

Um sussurro de lamentos vedados
coberto com véus do esquecimento bordados de ais
escorre no eco do instante vazio
brutal suspiro, rasgado em restos de nãos 

Do silêncio
nasce a eternidade das juras de amor
não há morte para quem sangra em poesia 

O silêncio dos invisíveis... 

Incenso da dor e da esperança
promessa de versos tingidos de poesia
que grita com voz que o mundo recusa ouvir 

Invisível como a dor da lágrima calma
oculta em páginas e páginas de silêncio 
tecidas em letras viscerais, universais
onde a dor se faz verbo, a poesia, destino 

Guardião de berros que repousam, como pedra, na indiferença 
e o mundo pisa a passos largos e finge não olhar. 
Míriam Li/Braga 

acrilica/papel camurça (60 x 40)

Resto do Post

Nos salões da eternidade

Nos salões da eternidade 

No abismo das madrugadas repletas de ti
respiro saudades que carregam algemas exaustas

A poesia magoada, geme entre as grades do teu silêncio 
transborda em versos com voz de prisão 

Sem ti
a luz recusa o esquecimento 
ainda que a noite se negue amanhecer
teu sonho insiste em atravessar o meu 

Quisera, sob os véus cúmplices da noite, contigo, lentamente, dançar... 

Nos salões da eternidade 

abandonar o mundo nos braços teus
perder a razão no orvalho fatal do teu corpo no meu 

Sabem as estrelas
somos eternos no instante do nosso último olhar
 
Às vistas grossas da morte... 

Vivo!

Prisioneira da poesia com cor de ferida em carne viva da ilusão
condenada entre o ontem e nunca mais
no silêncio tumular dos versos, ainda te sonho. 

Sobraram versos
presentes nas ruínas do meu ser
despedem-se de si, ocultos na própria dor. 

Miriam Li/Braga 

acrilica/esmalte/grafite em pó/compensado

(70 x 50)

 https://www.instagram.com/olharesdaminhaalma/

Resto do Post

Ecos do instante

Ecos do instante 

Cansei de morrer, tantas vezes morri...
antes do abraço 
a um passo do encontro marcado, morri
atravessei luas pálidas, cruzei sóis viris sem chegar a lugar algum, cansei
cansei... de morrer, cansei! 

Reles destino, omisso, me deitou em mar de areia
náufraga do meu querer, ninguém me ouviu cantar... 

Ninguém! 

Na sombra de um verso sombrio da indiferença 
foge de mim a pérfida poesia 
inscrevo-te nas margens do meu olhar de espera 
até a tinta virar oceano 

E o mundo se cala 

Entre lágrimas que a terra devora
abandono as algemas da esperança às margens do silêncio latente na  madrugada vazia de calor 

No corredor do tempo, o vento despeja saudade, promessas rasgadas e uiva lâminas de desejos 

Fugitivos de gêmea solidão 

Morremos nós...  
à beira de um beijo morto
no abraço que nunca chega 

Nunca! 

Tu e eu morremos...
nos sonhos que ardem sob a pele nua
no encontro que não germina
na eternidade que se insinua 

... para nos descobrirmos vivos. 

Miriam Li/Braga
acrilica/lona (90 x 70)

https://www.instagram.com/olharesdaminhaalma/

Resto do Post

Entre o céu e a terra 

Sou cosmos e carne viva
conto estrelas como quem descobre destinos
sou da noite como a lua 
sonho a poesia rasgando o ventre da madrugada 

Com os pés descalços na terra que me aninha
sigo a luz que há no fim da orla extrema  do céu 
sussurro versos guardados no silêncio do ninho 
enquanto uma lágrima árida transborda mares invisíveis 

Entre o sopro do céu e o sangue quente da terra 
há um espaço só meu,  onde a minha vida é pintura viva 

E, é ali
de luz e cor vestida que me refaço e renasço sobre a tela encarnada que me sonha. 

Miriam Li/Braga 

acrílica/tela vermelha (encarnada)

(60 x40)

https://www.instagram.com/olharesdaminhaalma/

Resto do Post

Aos pés do mandacaru, chorei...

A noite celeste de estrelas vestida
em silêncio poético, cai no árido dia
acorda desejos com a lua 
sal das paixões desmedidas 

Sincera, rasga o céu noturno em revelação
inocente instante de furor da beleza em brancura noturna 

Suplício 
a morte súbita da flor da noite se veste de luz
do primeiro sussurro da aurora para nunca mais 

Meu olhar permaneceu no silêncio ardente
do rastro dos espinhos que sangravam perfumes sobre a terra agreste esparramados 

Fitei o segredo da eternidade breve 
e a nudez da beleza e da morte anunciada 
ajoelhei-me em êxtase e dor 
morri e renasci na mesma lágrima calma 

Aos pés do Mandacaru, chorei...
era a poesia que me fitava. 

Miriam Li/Braga 
acrilica/esmalte/eucatex 
(90 x 60)

Resto do Post

Perfume, espinhos... Ea flor


Resto do Post

Perfumes, espinhos... E a flor 

Quando o abraço do teu olhar me consome
um cântico de eternidade silencia a rouquidão da noite 

Estremeço 

Fujo do punhal do tempo como quem morre a cada beijo
e renasce no sangue fervente da paixão 

A carne é labareda insaciável 
na vertigem onde a alma se perde 

A poesia sai de si, goteja o poema no delírio que arde e corrói 

Quando teus olhos de me querer florescem
atiçam perfumes, espinhos 

E a flor 

O que resta de mim senão o ardor de um verso cego 
à beira do abismo quase morte da paixão. 

Miriam Li/Braga

acrilica/papel camurça
(60 x 40) (em andamento)

Leva-me contigo


Resto do Post

Leva-me contigo 

Não há gritos nem vazios
a quietude do silêncio do meu olhar é luz  incandescente que não se apaga na espessura da noite

Desvela-me aos olhos teus
que me olham além dos enganos da existência 
e dos brilhos fáceis da pele falaz do mundo 

Sob as camadas ocultas que desafiam o teu castanho olhar 
rendo-me ao fadado encontro 

Vem
rasga as cortinas do tempo perdido
leva-me contigo ao luar de desejos
mostra-me para a tua pele rendida 

Ou me deixa aqui... 
no chão do retrato velado da indiferença 
até perder a voz do horizonte 
à espera de que a aurora tardia do teu perfume penhorado me desperte. 

Miriam Li/Braga 

acrílica,esmalte/Eucatex

(90 x 60)

https://www.instagram.com/olharesdaminhaalma/

O silêncio doa desejos


O silêncio dos desejos 

Há um verso esquecido no cárcere do poema
uma canção que grita além do som
o olhar estelar silencia o temor do açoite de palavras sem eco 

Sensível como a crisálida ensaia o voo 
em cada suspiro, uma estrela nascente
cada lágrima oculta finge sorrisos, querendo o céu 

Um sopro de luz atravessa o silêncio 
sustenta o desejo infinito 
um vento mínimo de respiro 

Lá fora, a rua carrega batalhas invisíveis 
armas de incompreensão
a beleza do silêncio dos desejos represado é força subterrânea 
não dito, é fúria e ternura que nenhuma língua de ferro pode calar 


O rosto inocente ousa pedir apenas uma fresta no mundo hostil

tem sede, fome de transbordar
fecha as pálpebras de liberdade, resiste e volta a sonhar.

Miriam Li/Braga 

Acrílica/grafite em pó/compensado

(70 x 50)

https://www.instagram.com/olharesdaminhaalma/


Resto do Post

Visitei os céus de Júpiter

No abismo do meu pensamento
desfaço-me nas águas e nos ventos
nas correntezas sem memória 
em véus de vapor errante
 
quero caber num corpo de estrela
abrigo onde o instante mortal seja eternidade sideral 
a antiga pele tecida em luz
suavizar as minhas quedas 
romper a rigidez da minha essência austera
derramar esperança, como sangue vivo, no cálice do meu destino
gritar coragem nas frestas da noite 

Sou do silêncio de janeiro
carrego o peso das pedras na dureza de Saturno que me habita 
sei dos segredos do inverno 

Visitei os céus de Júpiter 
Senhor dos céus vastos
caminhei por rios de ventos, mares de água em fúria 
neles, o silêncio de trovões era raio e ventanias uivantes
a noite, estrada de clarões 

Regressei ponte alada entre rocha e raio
minhas pedras são degraus de ascensão 
meu silêncio, luz, que devora a escuridão 

Entre o tempo que me prende e a eternidade que me chama
aprendi a caminhar sozinha com o meu silêncio
iluminada pelo luar.
Miriam Li/Braga 

acrílica/esmalte/Eucatex (60 x 40)

https://www.instagram.com/olharesdaminhaalma/

A nudez da minha dor


A solidão do indigente olhar que espera
sou coragem rejeitada, deitada à beira da ilusão 
não mais que a ferida indulgente do sussurro traído 

Sou a dor da lágrima calma
trêmula 
acalma a febre da finda noite
transborda
sangra pedras de silêncio que me escoram 

Quero chorar...
há véus de sorrisos sobre meus olhos
aflitos, recusam o pranto 

Quero cantar...
há berros calados gritantes na clausura de um gemido suave
réus, carregam ausências
fingindo inocência, escondem abismos sem céu 

Quero seguir...
há um tremor culposo rasgando a espera
o teu silêncio sofrido,  o meu, partido
fragrância querida ainda viva, em impune ausência 

Quero lembrar...
minhas mãos já não te escrevem
vazias de calor, silenciam
obram letras quebradas nos porões da lembrança deserta
entre sombras e auroras perdem-se em cinzas e
perdoam a nudez da minha dor 

Quero seguir...
e sigo
minto cantigas para a lua passiva
afago cicatrizes nas paredes da esperança
ainda respiram..
jaz tenro abraço, desconhecido beijo sinto.
Miriam Li/Braga

desenho/grafite em pó /eucatex (160)

Resto do Post

Rendição

Dois silêncios... íntimas noites nuas
insinuante tapete mágico... deitados
ameaças de morte por beijos

o teu
poema-mor, às margens da minha pele rendida
velado convite, diamante anelado

o meu
teu último mundo, sentença de vida em vida
confesso anel de olhares suspensos

fadado encontro, rendição...
a sós
descobrem-se vivos... o meu e o teu

Respira a noite, perfume de promessas vivas
teu pensamento é meu, e o meu, para sempre, teu.

Miriam Li/Braga

desenho grafita/grafite em pó/ papel A IV

No fio do teu olhar

No fio do teu olhar 

Quando a noite vem
sou instante suspenso no fio do teu olhar
moldado em versos de saudade 

vencida por desejos, sou
no rastro do teu silêncio, estou
ao sabor de desejos, prometi ao destino
na aurora de um novo hoje, amanhã 
teu sonho eleito, animar 

vem

traz contigo teu perfume, anunciando a tua chegada 
tua voz abissal, estremecendo a minha
grava em mim as mãos do teu querer pensado

estou aqui, sem segundo, vestida da espera que me sustenta. 

Miriam Lima/Braga 


acrilica/escultura/cola durepox/eucatex (60 x 40)

https://www.instagram.com/olharesdaminhaalma/

Resto do Post

Ti voglio bene

Ti voglio bene 


Negro olhar que em noites sonhadas

abre o portal dos meus sonhos

verso sonhado que revisita meu sonho como maré 

é passado sem nome, futuro sem fim


Tem a pele de convite à arte pela arte 

não conversa, mas o olhar imanente me diz 

no instante em que me alcanças

sou feito de ti, tanto que me recrias

em tela viva nos sonhos teus

Ti voglio bene.

Miriam Li/Braga 

acrílica/tela/carpete (100 x 70)

TI voglio bene é o primeiro, de uma série  de 6 contos baseados em sonhos repetitivos, reais

Retrato, com precisão fotográfica, as imagens, rostos, olhares e paisagens que registro em sonhos, durante o sono.

https://www.instagram.com/olharesdaminhaalma/

Resto do Post

Solitude


Solitude

No alvor da madrugada rasgo a cortina implacável do tempo 
espio o passado sem amarras 
não há mais laços nas feridas caladas 
espinhos perdoados repousam quietos sob a pele da memória antiga 

Na aurora de um novo hoje 
há encanto no meu olhar 
há gorjeios gorjeando 
há perfumes florescendo
amanhecendo o luar 

A distância não separa 
a ausência é presença viva que abraça 
por livres e espontâneos desejos próprios 
eis-me aqui 
sou existência no silêncio que me guarda 

Solitude, refúgio eleito 
solidão almejada. 

Miriam Li/Braga 
acrílica/lixa (50 x 40)

A face oculta

A lembrança incerta pausa, desfaz a face
o instante escorre pelas frestas da memória 

O rosto que me rodeia, emudece
trêmulo, se deixa ver
mas o olhar sem laços, não encontra morada 

O ontem reaparece indefeso a cada manhã
a ausência permanece estática, presente nas minhas horas rasas 

um rastro de silêncio cega o meu olhar vazio de retrato
já não sei teu rosto e não são as tuas, as mãos que me sonham
sobra a tua voz que reina em mim, além do som 

O mar serenou tarde demais. 

Miriam Li/Braga
Título da poesia: A face oculta
Título do quadro: Prosopagnosia
acrílica/esmalte/Eucatex (90 x 60)

Resto do Post

O homem visita o homem

O homem visita o homem 

A súplica muda imóvel na estampa dourada 
sustenta o silêncio ancestral guardado
m experiências universais 

Teu silêncio não me é estranho
também o arrasto,  acorrentado na garganta 

Há séculos nos olhamos 
e quando olhares silenciam
o homem acorda
abre janelas na própria prisão 

Cada olhar é um verso esculpido no espelho quebrado do tempo
um convite para visitar a própria memória 

o homem visita o homem 
e descobre que também é hóspede
visitante em si mesmo.

Miriam Li/Braga 

Pintura premiada 
XIII Salão Internacional de Artes Plásticas 
Proyecto Cultural Sur -Brasil/2004 - Bento Gonçalves, RS

acrílica/tecido/colcha matelace (100 x 70)

https://www.instagram.com/olharesdaminhaalma/

Resto do Post

Não te vás!

Não te vás! 

Saia escarlate ao chão... jaz a luz à cabeceira
amantes vontades rasgando véus
silhuetas famintas, inflamadas carnes ao léu
mãos que não se calam... o vinho é servido. 

Pairam perfumes inundando o leito, gota a gota
regando feiticeiras bocas... rubra conspiração
desobrigadas taças... sorvido molho. 

Resgatada pele, rotas pernas abraçando a paixão
inútil fuga... empossados céus
demasiado tarde... é morta a solidão. 

Fica assim... no meu último olhar, a miragem
diluindo silêncios, estremecendo a rede 

Assim ficas tu! Esculpido em secreto poema
a dançar dentro de mim... 
Não te vás! 

MiriamLi/Braga

Grafite em pó/eucatex (90 x 60)

https://www.instagram.com/olharesdaminhaalma/

Resto do Post

Insuficiente vontade

Insuficiente vontade
Transitando silêncios, sem passos, penso
nada há além do hábito que habito, inválido
resfria a antiga pele sensível sob o lenço 

Desapareço
indiferente... quieta, atravesso o tempo 

Negro sol golpeia a poesia, pálido 
sombreia a espera... morena luz fria 
lentos versos requebram ao relento 

Finjo não ler o último recado da nova lua
insinua um poema, serena mentira balbucia, nua
sacrifica segredos, prateia promessas, brinda à folia 

Exijo perfumes, ajoelho... arremesso a tiara 

Insuficiente vontade irriga o meu olhar
entorpece a menina, escorre... atiça a taça vazia
tinjo a lanterna... inspiro o espelho, absolvo a intriga 

Estremeço
rasgo a vidraça... inquieta, clara noite eterna me espera.
Repenso.

Miriam Li/Braga 

grafite em pó/verniz/eucatex

Camuflagem

Camuflagem 

Pareço bela, mas meus olhos já não sorriem
não prosseguem a travessia, não sou 

Sou folha de outono, à beira da paixão 
roo a fatalidade do destino
tenho a alma dilacerada em cor
cada traço uma ausência 
cada dor um desejo abatido 

Perdida no corredor das lembranças
me rendo às tintas 
e as mãos que sabiam meu ser
hoje não sabem onde pousar 

Um tremor sem calor atravessa 
o poema sem rima que escorre de mim 

A noite me toma
me entrego
revivo nas rendas do meu vestido cor mel.
Miriam Li/Braga 

Acrílica, esmalte/eucatex(90 x 60)

https://www.instagram.com/olharesdaminhaalma/

Resto do Post

Exílio do olhar

Exilio do olhar 

Não há consolo nem promessas
não há pregos nem martírio
há recusa, no olhar que se ausenta de si
vazio suspenso de olhos que não querem olhar 

Berros calados ressoam no abismo íntimo de ser
esgotam a última gota do pranto contido 

Uma viga de madeira pendurada
sustenta a ausência 
não exige fé, não oferece perdão 
reflete súplicas, culpas rasgadas em
confissão 

O rosto que nela repousa, não se doa e nem se explica
inerte na dor que já não clama
sem escuta, apenas recusa 

Roupagem antiga para feridas eternas
o silêncio que brota da cruz silencia o abandono do olhar nela pendurado 


E, ali, onde o olhar se exilou do mundo 
a cruz não redime — vazia de olhar, revela:
somos todos rostos pendurados
no silêncio da cruz que escolhemos não ver.
Miriam Li/Braga 

Técnica mista 
Acrilica-grafite em pó/madeira
(95 x 75)

Engenha-me

Engenha-me

És tu!! Só tu, que vagueias em mim
que me acendes à distância quando o sol, vencido, desaba nos vãos da noite e a lua, silente, espia

Faz de mim o que quiseres - só tu!!

Com tuas mãos, que conhecem a melodia do meu silêncio
me recrias ao teu querer
desenha-me com a tua boca de promessas não ditas

Sou pétala entreaberta ao orvalho dos beijos teus

Faz-me carne viva do teu sonhar desperto
desvenda a pele do meu desejo
tenho poros querendo transpirar
há um grito calado, querendo gritar
refaz-me com fios de lembrança antiga
geme meu nome com sofreguidão

Se não o fizeres, não sou
Se me chamares, eu vou.
 Miriam Li/Braga


afresco/grafite em pó
(2,15 x 1,15)

Resto do Post

Espelho, espelho meu...

Espelho, espelho meu...

Quando criança, eu brincava no pátio da nossa casa
caminhava olhando para baixo, para o espelho que trazia à  altura da cintura...assim, me sentia caminhando entre nuvens   e, às vezes, vencida por desejos, esperava anoitecer para   caminhar entre estrelas e acariciar a lua 

Em mim habita o céu da infância antiga
a nuvem é memória que me abriga

Bebi da fonte da sabedoria primeira
enquanto com carvão, evidenciava deslumbrantes olhares nas paredes protetoras do porão
guardava para mim, a descoberta da inversão das cores em películas herdadas

Nas paredes, a luz e a sombra se agigantavam insólitas, sem mediação ou ilusão
imagens vivas da intenção pensada
desobediente à regras, modelos, teorias

A autoria questionada, um duelo cruel
"isso não é arte", "isso não é teu"...

Sou mulher em estado bruto, feita de silêncios
indiferente a julgamentos, assumo e assino os Olhares da minha Alma
domino as técnicas de desenho e pintura que desenvolvi
não sou canal, sou nascente, sou raiz que rasga o chão

Palavra inteira, não me curvo ao mito ou ao altar, é pura confissão
autora viva a se autorrevelar
não visto o véu de fada, nem manto de sacerdotisa

O silêncio do rosto que me olha do espelho, confessa
Espelho, espelho meu...
Eu sou ela, ela sou eu.

Miriam Li/Braga
Afresco/grafite em pó (75 x 45)

Resto do Post

Páginas de silêncio

Páginas de silêncio

A pupila do tempo me encara, exposta
desvendo meu retrato nas fendas sutis de rostos frágeis
bordo a dor com cor de perdão, quase sem fala 

A luz do fim de tarde me parte e reparte
mostro-me em fases, sou lua na rua
ferida, me escondo feito miragem nua

O silêncio também é arte, daquelas que não se pendura
arte que me escapava como segredo

Perdura no papel destinado, um ateliê de palavras, não um grito
pendurado no mundo, o que era entre nós dois

No caminho, uma ponte desfiada sobre o verniz escorregadio da dúvida

Meus olhos já não choram, quando as luzes se apagam
estou onde meu pensamento adormece
páginas e páginas de silêncio repleto de mim, sem eco, vazias de fim.
Miriam Li/Braga
afresco/ grafite em pó (1,40 x 85)

Homenagem póstuma; Poema para o Poeta português, Fernando Oliveira -

Um lê, o outro olha

Abre-se um portal do universo
um respiro no meu silêncio
celebro o poeta que se faz belo na poesia confessa
demora-se em douradas letras sentimentais

Entrelaçados pela arte, tecemos a trama da realidade
com a força das palavras e a magia das pinceladas

Nossos mundos se tocam, feito laços
há um mundo consentido, tão nosso
entre teus rascunhos e meus traços

És verbo, sou imagem
no encontro entre teu verso e o meu gesto
a poesia tem olhos e a pintura, linguagem

Teu português é antigo, como pedra e mar
meu olhar, novo como chuva no papel
o rosto que me olha da tua escrita
é o mesmo que me pede cor e pista

Tua poesia é um circulo onde o tempo se dobra
minha pintura, uma janela onde o silêncio sobra
Na tua rima, há abismos e véus
na minha tela, há rostos buscando céus

Tua voz é vento que dobra o jardim
meu pincel, um pulso trêmulo de marfim
num oceano de tinta e palavras 
pulsam versos com cor de sonhar
sufocam o queixume do falso abandono poético pictural
um adeus que nunca foi dito

Os dois, somos poetas e pintores,
o teu silêncio escreve, o meu retrata
Um lê, o outro olha.

Miriam Li/Braga

São três horas


Resto do Post

São três horas
na lembrança repousa o instante
tem a pele do segredo
tímido de enredo, insiste na fuga

A memória é gesto do passado

A saudade murmura suas lutas
envelhece o retrato
fiel, cambaleia sem alento
às portas da madrugada, vive

A verdade clareia à noite
despe a ilusão, inspira a palavra
cisca a lágrima perdida

Nuvens em céus líquidos, somos nós
São três horas.

 Miriam Li//Braga

acrílica/ papel camurça ( 60 x 40 - cada)

Poema para Van Gogh


Resto do Post

Poema para Van Gogh

Um trêmulo sussurro de girassol
ecoa na ventania estática

O silêncio do pincel risca a tristeza
dilui o pranto em noites estreladas
a cadeira repleta de ti, grita a quietude da dor

O horizonte curvado beija o chão dourado
aprova o cancioneiro de corvos sobre o trigal

A noite desce afetuosa vestida de estrelas
emoldura a colina
ao sabor do teu límpido olhar

Na clausura da arte, excede o silêncio
rende-se à arte pela arte, simplesmente
floresce o jardim dos poetas.

Bem-aventurado silêncio que nos credita.
                                                                            Miriam Li/Braga

afresco em grafite em pó (35 x 30)

Olhos sobre tela

Olhos sobre tela

O meu olhar, sob o véu do silêncio, diz
pranteia ao luar de céus noturnos
encontra morada, é firmamento
esparrama versos calados, namora
em ti permanece, em olhos sobre tela

Sobre tela é espelho, é cortina
autoriza e dá o tom, o meu olhar
estampa instantes da íris menina, cresce
sanguínea mulher, quer
ora míngua, esquece

Este meu olhar, nu
areja a liberdade que povoa meus sonhos
inocenta a rudez de pegar-se de palavras
eleva a ponte do distanciamento
parto sem dor.
Miriam Li/Braga

Acrílica/lona (40 x25)

A te procurar


A te procurar

Sempre quando eu venho aqui
um vazio quase morte serpenteia envolvente
leio letras de saudade, saudade em letras
versos tontos de amor
alço voo fulminante, a te procurar

Volta e meia lanço rezas, inválidas
meia volta... se morrer é preciso
preciso morrer assim, de amor
a te procurar...
antes que o dia aconteça.

Miriam Li/Braga
acrílica e grafite em pó/ mdf (75 x 60 )